Me saber de meia idade chega a ser divertido. A ideia que temos de uma pessoa com mais de 50 anos é distinto do que vemos por aí. Quero pensar que estou sendo lúcida em afirmar que a maioria de nós, cinquentões do ambiente sociocultural que frequento, está melhor fisicamente do que nossos pais e a geração deles.

Mesmo assim, os anos não passaram em vão. Eu vivi 50 anos. Toda essa bagagem me acompanha e é notória na minha forma de ver o mundo e no meu corpo físico, conjunto que me tornam a mulher que sou hoje.

Nós não chegamos até aqui sozinhos. Somos produtos de milhares, se não milhões, de conexões que se tornaram experiências, emoções, sentimentos, conhecimento, saberes. Que lapidaram nossos valores e reforçaram crenças que nos guiam.

O que fazer com quem sou hoje é uma decisão quase diária. Tem pessoas que nesta fase sonham com a aposentadoria. De parar de produzir, de trabalhar. De ficar à toa. Ocupar seu tempo se dando prazer. Um prazer que está ligado à diversão e ao descanso.

Eu estou longe desse aspiracional. Meu aspiracional de futuro passa pela produção. Talvez seja porque adoro o que faço. Porque isso me dá prazer. Tive a quase teimosia de nunca buscar um emprego que só me desse renda e sim uma atividade que me preenchesse e me trouxesse renda. São coisas bem distintas.

O resultado disso é que chego hoje à meia idade com o desejo de continuar produzindo. Produzir me faz ser mais eu. Me empodera. Me enobrece, me dignifica. Me orgulha. Nada contra a diversão e o relaxamento. Gosto e pratico relaxar, viajar, dar pausas na correria. Entendo que estou no tempo de que essas pausas sejam mais frequentes. Não tenho certeza se mais prolongadas; mais frequentes com certeza. E aqui me refiro ao café com uma conversa prazerosa no meio da manhã, a visita à exposição fora do final de semana – benefícios que me dou pela coragem de empreender neste país.

Sempre vejo pessoas esperando as férias com um quase desespero e voltando delas com uma quase depressão. Já passei por isso. Hoje as pausas constantes me ajudam a perder essa ansiedade e natural frustração. O desejo de continuar produzindo sobre temas que me motivam tornam meu dia a dia cansativo e ao mesmo tempo prazeroso. Produção – que não chamo mais de trabalho – e pausas viraram uma coisa só. Não há tanta divisão assim entre eles. Nas minhas pausas mais prolongadas – que nem chamo mais de férias – também produzo. Meu olhar, minhas experiências alimentam minha alma, permitem eu ser uma pessoa com mais nuances e conteúdo; e fazem minha entrega profissional mais rica e profunda.

Olho para o mundo e vejo que posso contribuir da forma como nunca antes conseguiria. Ter meia idade dá essa chance com segurança. Oferecer e entregar aquilo que aprendi e abrir possibilidades de visão de mundo, de compreensão, de vida para os outros, é uma responsabilidade prazerosa. E com o passar do tempo vou ficando mais atrevida na forma da entrega. Creio que quanto mais velha ficar, mais atrevida ficarei. Ah! que maravilha as décadas que me esperam.

PS. Quis que a imagem deste texto fosse do meu dia-a-dia. Escolhi uma em que estou com duas pessoas acima de cinquenta anos que me inspiram: Nélio Bilate e Richard Barrett. Pessoas que produzem muito e se divertem muito. Ao meu lado, a doce e querida Rebeca Andreosi que certamente será uma divertida mulher de meia idade.