Ontem fui ver a exposição Guerra e Paz de Cândido Portinari. Quando vi os dois murais imensos (10 X 14) parei e fiquei captando cada sentimento transmitido nas expressões, nas cores, no atos retratados nos painéis. Depois vem o filme com Milton Nascimento falando sobre o que é Guerra e o que é Paz. Não tem como não ser tocada pela emoção e intensidade do Portinari.

A exposição é maravilhosa e revela o esforço e a grandiosidade do Projeto Portinari. Por trás disso, um filho querendo honrar seu pai. O depoimento dele me tocou especialmente. Fiquei pensando como deve ser difícil para um filho ou uma filha ter um personagem tão importante na vida. Por um lado, o orgulho, por outro, a necessidade de criar uma identidade própria. Muitos não conseguem se livrar disso e fogem da sombra do pai ou da mãe tentado sempre se provar. Há momentos que a distancia é necessária. Há momentos que a raiva, natural, toma conta, e após dela vem o desenho de renegar a herança; mas depois vem o momento da pacificação. Do reconhecimento da herança e nosso desejo de honrá-la. Me parece que é isso que tem acontecido com João Cândido Portinari. 



Sem dúvida não deve ter sido nada fácil ser filho do Portinari, dada a intensidade do pintor em viver a vida através de sua arte. Alguém intenso não é todo mundo que aguenta, mas são essas pessoas que nós  lembram o importante. Nos tiram da rotina, do cotidiano, nos ajudam a nos integrar e permanecer nessa integridade que é viver a vida com presença. Estando onde se está. Pleno, completo.

Já emocionada por toda a exposição, uma frase do Portinari, fez o ato de misericórdia, e me abriu por completo para sentir a arte desse pintor: “Fui proibido de pintar. Fui proibido de viver”. Cândido Portinari morreu com 59 anos por intoxicação pelas tintas que tanta vida lhe deu.