Vou usar a publicidade para refletirmos sobre um dos lados do tema que estamos debatendo esta semana, pois mesmo que de forma estereotipada, ela nos traz as tendências do que acontece em determinado momento da história. 

Na década de 60 e até meados de 70, a propaganda mostrava a mulher como a rainha do lar. Os dois exemplos que ilustram este texto sempre me deixaram bem chocadas: num deles, a mulher está sentada com toda a família em volta, secando os cabelos com um secador de pé. E o texto, inclusive, fala sobre a rainha do lar. O outro ainda me deixa mais surpresa: é a comunicação de um banco, convidando as mulheres a assumir a sua independência financeira – “elas assinam os cheques da escola das crianças”, diz o anúncio. 

Já entre o fim dos anos 70 e os anos 80 a figura feminina muda radicalmente em comerciais e anúncios. Ela passa a ser a espertalhona que resolve tudo e o homem sempre é um bobalhão. Fica ainda mais explícito isso quando têm crianças e até cachorros que se divertem da figura masculina feita de bobo. Lembro que meu pai odiava os comerciais desta época. Ele sempre dizia: “comercial é tudo igual – mulher espertona e homem bobo”. 

Nos anos 90 isso fica ainda pior, pois diversas vezes o homem nem aparece, dando total espaço a uma mulher poderosa e sensualíssima.  Vou ficar apenas com a parte histórica desta linha do tempo para não entrarmos na polêmica da publicidade realizada a partir do ano 2000, pois tudo se torna mais esquizofrênico.

Isso tudo para dizer que às vezes me sinto em um comercial da década de 80. Amigas muito próximas, que têm bom-senso e ótimo coração, se transformam em mulheres autoritárias, mandonas quando falam com seus maridos ou se referem a eles. Verdadeiros bobalhões nas mãos de mulheres que, muitas vezes, ganham mais do que eles e que criaram uma dependência desta situação. Elas mandam e desmandam a respeito do que fazer com os filhos, as empregadas, a casa e assim por diante. Eles estão sempre disponíveis para e obedientes como cordeiros.

Fico me perguntando, embora tenha a resposta, se eu tenho sorte ou azar de ter um companheiro que não se dobra a todos os meus impulsos de mandona. Porque, às vezes, confesso, eu tenho tais impulsos. Acredito que é meio natural para a maioria das mulheres modernas tomar as rédeas, organizar, dar direção, assumir. Mas cá entre nós, tudo tem limite. A resposta a pergunta que faço é que eu tenho sorte. 

Na verdade até tenho a certeza de que eu pedi um homem assim – que tenha a sua opinião. Às vezes a relação fica mais difícil, pois é preciso muita maturidade para se chegar a um caminho comum, sem desgastes irreparáveis. Foi difícil para nós chegarmos neste ponto. Mas vou falar que a recompensa disso é poder, muitas vezes, chegar em casa e ter uma comidinha boa me esperando, sem que eu se quer tenha sugerido que isso fosse feito, muito menos “mandado”. É bom de vez em quando não precisar escolher o programa do fim de semana ou planejar as férias. É bom ser mimada um dia ou outro. E mimar também. Quando descobri isso, deixei de mandar. Foi deliciosamente bom para mim e para a minha relação. 

Que tal experimentar? 

Publicidade da década de 60 dizendo que o produto
vai trazer a “rainha do lar” de volta para casa!

Anúncio da década de 70 falando que as mulheres
 agora também assinando cheques

Comercial dos anos 80 mostrando a mulher mandona e o homem “cordeirinho”e bobalhão

Diversos anúncios da década de 90
mostrando as mulheres poderosas e sensuais.