Desde ontem tenho visto circulando na internet o resultado de uma pesquisa sobre assédio contra mulheres em espaços públicos – a famosa cantada de rua. A autoria e divulgação é de um blog sério chamado OLGA e faz parte da campanha “Chega de Fiu-Fiu”, lançada no mesmo blog pela jornalista Karin Huek. Mais de 7 mil mulheres se manifestaram, respondendo as perguntas e 96% delas afirmaram que já foram assediados publicamente. Um número bastante expressivo!
 

créditos: ilustração de Robot/VectorStock

Aí fiquei aqui pensando com meus botões se este era um assunto para debatermos aqui nas nossas conversas. Não pela temática, muito menos pela validade da campanha.Temos mesmo que denunciar tudo aquilo que nos incomoda e que desrespeita as mulheres. Mas eu queria fazer uma ressalva a uma única questão que me incomodou um pouquinho. Eu tinha um professor de química que sempre usava o seguinte jargão: “não confunda a ana tereza com a natureza”. Pois eu fiquei com a sensação de que a pesquisa, e mesmo a campanha, se não forem bem interpretadas, podem colocar num mesmo balaio atos sem escrúpulos  com xavecos e elogios.
Por favor, eu peço do fundo do coração, para que não me interpretem mal! Não estou defendendo de jeito nenhum que homens tenho o direito de falar palavras ofensivas para as mulheres ou que possam passar a mão em qualquer parte do nosso corpo contra a nossa vontade. Mas também não acho que ser chamada de linda por alguém que não me conheça seja ofensivo. Também não consigo imaginar como alguém possa se aproximar de uma outra pessoa na balada sem uma certa dose de um “xaveco” inocente. Vou reforçar mais uma vez: não estou defendendo que não seja uma afronta a mulher ser agarrada numa pista de dança ou coisas do gênero. Mas convenhamos que cantadas inocentes é outra coisa, bem diferente de assédio. Um elogio, um papinho bobo para tentar se aproximar, um cortejo (como diziam os mais velhos), com respeito e dentro dos limites, não faz mal a ninguém. Resolvi abordar o tema porque às vezes sinto que estamos no ponto da tolerância zero. Fico imaginando o dia em que nós, mulheres, vamos nos ofender até com uma piscadinha ou um torpedo enviado pelo garçom com um recadinho dizendo: “você é uma graça”.
Lembrei de uma história engraçada. Uma vez eu e duas amigas fomos parar num bar/restaurante que já havia sido um dos lugares mais badalados da cidade, mas naquele momento era uma coisa decadente. Nós tínhamos essas manias de irmos a lugares inusitados por pura diversão. De repente uma das  amigas sumiu e eu e a outra saímos a procura da sumida. De repente, a gente dá de cara com uma mesa enorme, cheia de mulheres, e um cara em pé contava milhares de histórias para as garotas que estavam se divertindo com o “tigrão”. Então quando estamos passando  ao lado deles, o cara se vira para nós e solta a seguinte frase: “vocês não são para o meu bico, mas estão de parabéns”. Nós duas tivemos um acesso de riso incontrolável. Até hoje usamos a expressão: “não é pro meu bico, mas está de parabéns”. Vamos combinar: tem algo de agressivo nisso? Eu, honestamente, acho que não.

Mas meus queridos homens: vale dar uma olhada na pesquisa e ver que têm atitudes de vocês que as mulheres acham repulsivas e com toda razão. Dá para dar uma maneirada, né? Até porque esta coisa de ser cultural e que o latino é assim mesmo está meio fora de moda. Estou falando aqui de coisas leves porque assédio mesmo, como está relatado em diversas pontos da pesquisa, não tem nem conversa. 

Veja a pesquisa na íntegra clicando aqui.