Tenho sido explícita sobre minha posição em relação ao governo Lula: contrária. Creio importante explicar que, seguindo obviamente minha escala de valores, mesmo reconhecendo seus acertos, sua inteligência em gerar benefícios para a imagem do Brasil no exterior e principalmente, em dar continuidade, com muita competência, à distribuição de renda iniciada antes de seu Governo. O Brasil economicamente está melhor.


Minhas restrições referem-se à forma e meios com que o atual Governo consegue as coisas. Maslow já dizia que o homem precisa saciar suas necessidades básicas – fome, abrigo – para começar a se mover a interesses mais elevados como honestidade, honra, respeito. Porém, a distribuição de renda e o trabalho social do Governo, não deveriam ser pretexto para passar por cima dos valores que elevam a alma humana, aqueles que nós torna maiores de que simples seres vivos na busca da sobrevivência.

Quando damos de graça, sem nada em troca, de certa forma estamos comprando essa pessoa. E acredito que quando você compra o homem, você tira sua dignidade. Promover o desenvolvimento permitindo as pessoas terem acesso a reais oportunidades de crescimento, via livre arbítrio, para mim, é ajudar de fato a que esse homem, sinta orgulho de si mesmo e, mediante seu esforço, possa melhorar de vida. Creio que é com esforço, com trabalho que o homem vai ganhando autoconfiança e orgulho de si próprio. Vai se superando. Óbvio que deve haver justiça que para que todos os esforçados possam se superar e crescer. Os Governos, as empresas, as pessoas –  sim, nós, e não somente os outros – deveríamos lutar para que as pessoas tenham reais possibilidades de desenvolvimento. Através da meritocracia, que é como fui ensinada e acredito, o mundo espiritual opera. Sem punição, mas com merecimento.

Quando temos algo a mais do que os outros, acredito que temos mais obrigações com o mundo, com o outro. É essa responsabilidade que deveria nos levar a tentar ser bom exemplo para que a próxima geração seja melhor do que a nossa. É o que acontece com os pais, ou, em minha opinião, deveria acontecer. Aqueles que considero bons pais, se tornaram melhores seres humanos por e para seus filhos. Os defeitos não são escancarados nem permissivos, mesmo existentes, são ocultos e evitados. Durante muitos anos considerei isso hipocrisia; hoje, entendo que muitas vezes isso se faz menos por enganar e mais por vergonha de não tê-los superados, por respeito aos filhos e pela esperança que estes sejam melhores.

Quando se assume um Governo, a responsabilidade é infimamente maior. Qual é o modelo a ser seguido? Como ser humano, quais os valores que o Lula e seu Governo estão deixando como legado? Rollo May dizia que o mito é necessário. E acredito que quando ele é elevado, enobrece a alma, nos levanta, amplia nossa visão, muitas vezes, míope da existência humana para um significado maior. Faz a humanidade avançar.

Atualmente, nessa seara, o legado do Lula tem sido um povo que acredita que está acima da lei, lei que deve ficar claro, é acordada por todos. O método pode ser discutido, mas é via o processo democrático que a lei é estabelecida. Portanto, é um povo que está acima dos acordos feitos. Da palavra dada. Um povo que quer grátis as coisas, ou seja, pode pensar no mínimo esforço para crescer. E com maior poder de consumo, para onde pode ir um povo que não tem um significado maior de existência, do que simplesmente o Ter? Uma casa cheia de bens de consumo. Pessoas comprando desnecessariamente, atordoadamente, acreditando que isso é melhorar de vida. Pessoas postulando para cargos públicos na busca de um salário fixo, estabilidade de emprego e sonho de trabalhar cada vez menos.

Quando foi anunciado o filme do Lula, fiquei indignada por muito motivos, desde o patrocínio, conhecendo por amigos cineastas a dificuldade que isso é e que nesse caso não foi; até pela ótica dada ao personagem, que como disse Boechat na BandNews, Hollywood já faz isso há muito tempo. Meu maior receio, no fundo, era que o povo brasileiro mitifique um homem com esses valores. Acompanhei o sucesso estrondoso do filme Dois Filhos de Francisco e imaginei, ainda com ajuda da máquina governista, que seria maior. Planos o Governo fez, até colocar telões em cidades que não tem cinema foi planejado. Mas o povo não quis o Lula. Simplesmente assim. Provavelmente irão votar na sua candidata, pão e circo de graça todo mundo quer, mas tê-lo como mito, na sua sábia ignorância, o povo preferiu Avatar ou a simplesmente a praia, à história de seu herói. A minha esperança continua.