Sem dúvida temos falado nas últimas semanas sobre temas espinhosos para os relacionamentos amorosos mulher-homem. O objetivo é gerar reflexão sobre nosso comportamento e compreender que uma crise na relação tem responsabilidade em ambos. Um comportamento alimenta o outro. Para mudar, é necessário alterar o que pertence ao nosso comportamento que alimenta o circuito negativo do casal. Não adianta olhar somente para o que o outro está fazendo. É mais produtivo e saudável olhar e refletir sobre a única coisa que temos controle: nosso comportamento.

Esta semana vamos aprofundar no tema da semana passada: a atitude masculina em relação a não assumir suas responsabilidades, em muitos casos, ancorado na quase adolescente atitude de querer fazer o gosta e não no que que deve. De onde vem esta atitude?

Compreendemos durante os Projetos Mulheres e Homens conduzido pela Behavior que existem dois principais motivos para isso acontecer: o primeiro, mais antigo e profundo é que os homens são criados para terem direitos “especiais”. Há uma crença que nos invade e permanece, que o homem ocupa – e merece ocupar – um lugar de destaque na sociedade. Por mais que nós mulheres, lutemos contra isso nas nossas relações afetivas, tenho entendido que na hora que somos mães transmitimos essa crença mesmo que sem dar-nos conta. Por que criamos filhos homens diferentes das filhas mulheres? Por que poupamos nossos filhos dos trabalhos e das obrigações de pertencer a uma família? Por que incentivamos na menina o desejo de superação e responsabilidade e com os homens somos mais condescendentes? Por que, ainda hoje?

O outro motivo é uma crença tão daninha quanto a outra, que considera o homem mais fraco que as mulheres, mais frágil. Todos podem dizer que “imagina!” mas pense bem: porque poupamos o homem dos trabalhos chatos, pesados, sensíveis, difíceis? Porque as mulheres podem encarar vários desafios e dar conta e esses mesmos desafios o evitamos para os homens?

Considero que há uma certa desconfiança que o homem irá dar conta. Essa crença vem desde a criação dos pais. Pais sempre poupam e protegem o filho mais fraco. Mesmo que inconscientemente. É um instinto natural de preservação, mas peço para refletir sob a seguinte ótica: essa proteção reforça a crença em todo o núcleo familiar da fraqueza do poupado. Ninguém fala disso, mas todos no fundo no coração, sentem. Criar um filho confirmando sua franqueza, ainda pelos próprios pais, podem ter certeza que irá definir boa parte de seu destino.

Muitos filhos homens são criados sob a sina do ser o mais fraco em relação as irmãs. Eles ganham na ilusão do ego a sua base de autoestima. Tornam-se vaidosos e condescendentes consigo mesmos. Se acham reis de um reino ilusório e vivem a vida achando que a vida lhes deve e que devem fazer só o que gostam. 

Por verem quanto os pais permitem tudo – ou quase tudo deles – confirmando sua fraqueza – vão assim alimentando a falsidade de sua identidade. A vaidade neste caso, no fundo, entendo eu, guarda uma profunda dor de se crer o pior – reforçado pelos próprios pais e o núcleo familiar mais próximo.

Aos fracos deveríamos dar vitaminas e expor, com cuidado, mas consistentemente. Ir empurrando à vida, para ele próprio ganhar autoestima e autoconfiança verdadeira, embasada no seu valor. Confie no seu filho e deixe ele voar. Deixe ele ter os arranhões que a vida dá mas que são importantes para conseguirmos nos saber fortes e vencedores. Faça ele assumir suas responsabilidades e pagar os preço de suas escolhas. Enfim, deixe ele crescer. 


Há algum tempo vi no meu jardim uma cena que me trouxe claramente essa reflexão: um passarinho muito pequeno chegou numa árvore através de um vôo descontrolado e incerto. Ele se balançava no galho com notável instabilidade. Logo em seguida chegou a mãe. Eles piavam sem parar. A mãe balançava o corpo como mostrando ao filhote e se lançava no ar. O filhote balançava mas não se soltava do galho. A mãe voltava e fazia tudo de novo. Foi assim umas três, quatro vezes e o filhote nada de voar. Até que na última vez ela fez o movimento de sempre e esperou, ao ver que o filho só se balançava e não soltava as garras do galho, sem duvidar, o empurrou. O filhote saiu voando quase que em queda livre. A mãe ao lado acompanhava a queda piando. Até que perto do chão – bem perto para meu desespero – ele conseguiu bater as asas firmemente e subir em direção à liberdade. 

O filhote poderia ter morrido na queda, mas a mãe sabe que se ele não aprender a voar, ele irá morrer de qualquer maneira rapidamente. Isso, para mim, é uma grande demonstração de amor. Confie no seu filho, no seu homem. Faça isso por ele e por você.
Boa semana, boa Páscoa para todos. Que este renascimento de Cristo, independente da sua crença religiosa, traga o fortalecimento do amor incondicional em você.