Hoje é dia das mães e por isso minha reflexão sobre o peso delas nas nossa vidas. Além de sermos filhas – com todo o peso genético, físico, emocional e moral disso – somos também mulheres, iguais a elas.


No Projeto Mulheres e no Projeto Homens, a relação com a mãe mostrou-se um dos pontos cruciais para as decisões de vida tomadas pelos entrevistados, mesmo que a maioria, nem se dera conta dessa importância. 

Com a transformação do papel social da mulher nas últimas seis décadas, nossas mães sofreram na pele a abertura de um novo modelo, de quebrar formas antigas de participação social. Sofreram com o peso social da ruptura. Isso gerou mães fortes, as vezes duras, outra frágeis e temerosas; muitas infelizes e outras alegres e leves; algumas irresponsáveis, outras, excesso de responsabilidade; algumas incrédulas com o amor e a sociedade, outras fortalezas de fé e esperança. Algumas protagonistas de suas vidas e outras no papel de vítimas,  responsabilizando os outros pelas decisões tomadas.

A relação mãe e filha é mais difícil do que muita mulher gosta de admitir. Mas nas entrevistas, num ambiente seguro isso fica claro. Muitas tentam fugir do modelo materno, correndo na direção contrária, sem compreender que mesmo longe, esse modelo ainda lhes persegue e rege suas decisões. As crenças e os medos das nossas mães latejam insistentemente na nossa mente e no nosso coração. A crença sobre o masculino costuma vir delas. Portanto, essas crenças dominam nossa forma de relacionamento romântico. É um perigo se não temos consciência disso. Mais ainda quando, como o Projeto Mulheres mostrou, é um dos maiores anseios femininos, amar e ser amada por um companheiro.

Revisitar a mãe é revisitar nosso feminino. Conviver, hoje em dia, para mim, é a melhor forma de curar feridas. A distância, oculta, disfarça mas, no meu entendimento de hoje, contribui pouco para a cura. Embora, devo admitir, haja momentos que fugir pareça a melhor coisa a se fazer. Para conviver de verdade, estando com nossas mães, ouvindo, trocando e não somente falando socialmente com elas, temos que estar prontas em ver em nós essa mãe se manifestando. Ver que muitos de nosso atos são a lembrança viva das nossas mães. Nem sempre estamos prontas para isso, sei bem. Nesse caso, tudo bem. Se dê um tempo. Mas lembre que a hora tem que chegar, para o bem seu e das próximas gerações femininas da sua família.

Um caminho de reconexão é ver o mundo através do ponto de vista delas e entender que fizeram o melhor, e aceitar o livre arbítrio que tiveram em fazer de suas vidas o que fizeram. Algumas são exemplos estimulantes, brilhantes; em outros exemplos do que não faríamos, mas em ambos os casos é justamente por  elas serem assim, que somos como somos. 

Honrar a mãe, para mim, hoje, mais do que um peso moral, é um compromisso de cura com a minha feminilidade, com meu lado mulher, com a minha existência.