Perguntamos as nossas entrevistadas o que desejariam ganhar num passe de mágica e as escolhas foram quase unânimes: melhorar a aparência física, ter mais dinheiro e mais prazer sexual. Fica claro, num primeiro momento, que o sonho geral é ser uma mulher poderosa, dona de si e do mundo. Bonita e gostosa, com ampla liberdade para a busca de seu prazer sexual e exercer, sem culpas, o jogo da conquista. Tudo isto, claro, sustentado por um poder de consumo infinito. 


Essa resposta veio tão fácil e quase unânime que se não tivéssemos cuidado, acreditaríamos piamente nela. Por isso decidimos, rever e parar para analisar melhor. Compreendemos assim, que existe uma mulher criada pela mídia que exerce um fascínio sobre a maioria das mulheres. Essa mulher símbolo é aquela ‘pós ombreiras’ que depois de conquistar o espaço público durante as últimas décadas, já inserida no mercado de trabalho, dividindo ou até sustentando a sua casa e família; agora está querendo cuidar novamente de si, ou seja, voltando-se para si mesma, para seu espaço privado.


Como todo movimento pendular no processo de evolução humana, a volta nunca se é no mesmo nível do ponto anterior. Em cada movimento há um avanço, em cada extremos há aprendizados apreendidos que são elaborados e assimilados levando a mudanças comportamentais. Por isso, nossa mulher símbolo do século XXI mesmo voltando-se para si, não o faz recolhendo-se, buscando sua verdadeira essência na intimidade; ela já conhece o âmbito público e seus códigos, e de tanto apreender a lidar com eles, talvez tenha até se esquecido de ser somente ela. Assim, mesmo sendo um movimento em direção a si mesma,  ela o torna público utilizando códigos externos que lhe garantem o reconhecimento do sucesso da empreitada na sua viagem a si mesma.


Cuidar de sua estética, estar na moda e agora ser uma amante resolvida, são códigos que demostram publicamente que ela se ama e que tem autoestima bem resolvida. Se amar é quase um mantra para a mulher moderna. Não priorizar-se é quase não se amar, o que significa uma ofensa contra todas as mulheres. A cobrança social que as mulheres fazem sobre aquelas que estão menos preocupadas em aparentar tanta autoconfiança é grande. Há quase uma militância feminista que vigia todas nós mulheres, e o pior que muitas vezes nós fazemos parte dela. 


E é aqui que mora o perigo. Percebemos que atrás do discurso de mulher poderosa, muitas mulheres sentiam-se engessadas no molde que elas próprias tinham criado sobre o que é uma mulher feliz e moderna.


É claro que a estética é uma ótima parceira na busca de autoestima, e que a busca pela beleza seja, talvez, o caminho que ajude mais pessoas a reencontrarem sua autoconfiança por exigir pouco, pelo menos num primeiro momento, mexer em questões internas, muitas vezes doloridas demais. Sem dúvida, é um caminho válido para se reconectar consigo mesmo. Incentivá-la só ajuda. A questão é quando ela vira só uma máscara e quando os excessos levam ao sofrimento e a mentira, ou pior, ao autoengano.