Há alguns dias ouvi o Ricardo Jung falar sobre o período pós eleitoral. Com sabedoria e conhecimento, ele foi trazendo racionalidade ao momento quase histérico que tomou conta do país nas últimas semanas antes das eleições. Como ele mesmo disse, fomos todos levados a um estado de irracionalidade, onde o medo se tornou latente. Tudo graças às táticas eleitoreiras que tiveram como foco polarizar a discussão. Em ambiente polarizado, argumentos racionais e propostas estruturadas costumam ter menos apelo. Ataques e defesas costumam ser mais notados.

Com a energia do medo imperando, escolhemos quem se apresenta mais seguro em nos defender do perigo. No medo, não somos capazes de analisar se essa defesa se sustenta e é viável. No medo, nossos comportamentos são mais viscerais. Aquilo que é dito, escrito ou feito no calor da irracionalidade causada pelo medo, fica guardado na memória de cada um. Difícil apagar os insultos, as ameaças, os preconceitos e julgamentos aflorados. Difícil apagar a dor causada ao ver um amigo ou parente querido expondo toda sua agressividade que de certa forma nos atinge.

Os políticos, como disse Ricardo, irão mudar de estratégia. Governar exige estratégias diferentes daquelas do período eleitoral. Só que nós, feitos marionetes ao vento soprado pelas estratégias eleitoreiras, fizemos o circo pegar fogo. E agora? Como conviver? Muitos, provavelmente o farão fingindo que nada aconteceu. Guardando as mágoas no coração. Outros buscarão a oportunidade de se afastar. Momentos como os que vivemos falam muito de nós. De nosso caráter como sociedade e como seres individuais. Quanto de amor e de ódio fui capaz de distribuir? Quanto contribuí para trazer racionalidade e lucidez, ou de replicar Fake News que diziam o que queria que fosse verdade, mesmo não sendo?

Mais do que um processo de julgamento sobre o outro, acredito que seja uma bela oportunidade de olhar para si. Toda ação sempre tem uma bela justificativa. Meu convite é olhar para antes da justificativa e observar o nosso comportamento em si. Falamos tanto num país melhor, num país mais ético, justo, amoroso e saudável. Então, talvez tenha chegado a hora de assumirmos que quem faz a nação que tanto dizemos querer, somos nós. Com coragem e humildade, poderemos olhar para nossos atos e seguir em frente, aprendendo com os erros e reproduzindo nossos acertos.