Passamos o último final de semana num hotel delicioso (Kuriuwa Hotel, Monte Verde) indicação de um casal muito querido. O local foi providencial para fazermos o que queríamos: descansar corpo e alma. Tivemos um sábado frio que veio acompanhado por uma névoa gelada que chegava a cobrir os pinheiros em volta gerando um efeito quase mágico sobre nós, transportando-nos para o mundo imaginário de reis, rainhas, heróis e heroínas do norte europeu…
Foi nesse clima de magia – que o pessoal do hotel faz questão de alimentar – que assistimos ao filme “Piaf, Um Hino ao Amor” de Oliver Dahan. Eu conheci Edith Piaf graças ao meu marido, um apaixonado pela cultura francesa, mas devo confessar que após o filme, ouvir Piaf tomou outra dimensão dentro de mim.


Como uma mulher com fragilidade física desde pequena, que teve uma vida, no mínimo, difícil, que sofreu tantos abandonos, perdas e dores, conseguiu ter tanta força e não se endurecer? Ela morreu alegre, cheia de fé na sua St. Marie Teresa e fiel ao amor e a si mesma. Sem arrependimentos.

Os últimos minutos do filme para mim são os melhores: a entrevista que ela dá à beira mar intercalada com a primeira vez que ela cantou “Non, Jê Ne Regrette Rien’’ no L’ Olympia, são uma lição de coerência e força de espírito que nos deixou extasiados e recarregados para voltar à vida do mundo real.

Ela sentada na areia, tricotando, despretensiosa, afastada da persona que representava ao mundo naquela época, vai respondendo às perguntas da jornalista. A tradução ao português, como costuma acontecer, prejudica a compreensão da força que há nas palavras da Edith, mas há duas respostas que gostaria de compartilhar.

A primeira é referente aos seus amigos. A repórter questiona quem ela considera serem os amigos mais fieis, e ela responde: “todos os meus amigos são fieis”. Claro, se é amigo, é fiel. Não deveria ser sempre assim? Não deveríamos usar esse termo para aquilo que foi criado e denomina? Quando a gente vai abrindo concessões, vai perdendo a consistência. Nossa própria consistência. Vamos, simplesmente, nos diluindo.

Eu sei, tudo tem seu lado positivo, mas pelo menos só para nós, creio que é bom voltar à base, a raiz para reavaliar e olhar tudo de novo sob outro prisma.

A outra pergunta é se ela costuma rezar. A resposta dela é maravilhosa, levando mais ainda em conta a vida de perdas e dores que teve: “Sim. Porque eu acredito no amor”.

Edith Piaf viveu até o último dia de sua vida amando. Amando a música, amando a vida, amando os homens, os amigos, o palco, seu país. Há tanta entrega no que ela fez que a gente, mesmo leigo no quesito música e sem entender uma palavra de francês, pode sentir a força da energia canalizada de seu amor, na sua voz.

Se puderem vejam o filme e se transportem para o mundo dos heróis que este mundo real pode criar. Quem sabe a gente não se anima e pega um pouquinho dessa força?