Hoje senti o medo no meu corpo. Embora tivesse sentido meu corpo ficar mais tenso nas costas e no ombro direito ao longo da semana, sinal que reconheço como algo me incomodando, somente na aula de ioga, hoje cedo, tomei consciência de como o medo estava tornando meu corpo mais rígido, endurecendo minhas articulações. 

Na medida que minha professora, Marcelly, intuitiva como sempre, ia conduzindo sua aula para ‘soltar o corpo’ fui percebendo a reação do meu corpo perante o medo. Quanto mais consciente me tornava do que estava acontecendo, mais o medo parecia crescer dentro de mim.  

Com essa consciência refleti sobre os últimos dias e percebi como quando algo me incomoda ou não está ainda resolvido dentro de mim, costumo organizar gavetas, armários, eliminar excessos, tornar tudo mais fácil de ser achado. Uma vez li que organizar armários ajudava uma atriz a se organizar por dentro. Achei engraçado na época, mas sem dúvida esse é meu caso. Passei parte do final de semana fazendo isso.

Meu corpo sábio, mesmo que minha mente não tivesse racionalizado o meu momento, estava dando sinais claros de tensão. Pois bem, aproveitei minha aula de ioga, me afastando do espírito ioga, que é estar onde se está, e fui desviando minha mente para sentir o medo em toda sua plenitude.

O medo tensiona porque faz o papel de nos alertar. É nesse estado, de alerta, que o medo se torna positivo. Nos desperta. Nos move. Nos agiliza.

Mas também o medo paralisa. Enrijece. Como uma idéia fixa. Como um saber radical, que é ótimo quando significa ir até a raíz, se fundamentar, mas que se torna ruim quando não permite o novo se aproximar. 

Quando percebi o medo em mim, me senti frágil e por alguns minutos tive a sensação de que não conseguiria sair desse estado. Me permiti viver isso. Foi com esse sentimento que  ao terminar a aula, liguei para meu marido para pedir colo. Sei que conseguiria me recobrar sem ter feito essa ligação. Mas é bom viver esse sentimento de fragilidade compartilhada. E saber que ele estava do outro lado da linha me suportando.

A cada respiração profunda fui recobrando minha força e com ela minha coragem. Coragem. Interessante como ela faz mais sentido depois de viver o medo. É claro que hoje em dia ter coragem para mim ficou mais fácil, porque são inúmeros feedbacks positivos que a vida me deu por tê-la. Mas ouve um tempo que ela veio como alternativa, quase única. 

Nesses tempos, o medo me fazia correr, quase sem parar. Não meditava sobre ele. Não o enfrentava. Corria dele. E a coragem tinha essa forma, correr. Fugir. Descobrir novas coisas, novos caminhos, para sair de onde estava. 

Hoje é mais tranqüilo. Primeiro é mais fácil reconhecer o medo. Senti-lo. Até porque já sei como ele se manifesta em mim. Segundo, sei que há saídas para enfrentar o que me gera medo. E aqui vem um ponto importante: isso não significa ter sucesso ou se dar ‘bem’ no sentido comum da palavra. Significa simplesmente que há saídas.  Terceiro, sei que tenho a força de enfrentá-lo. E quarto, também importante, mesmo que no final não dê certo, ou fique numa situação menos confortável, sei que irei sobreviver bem melhor do que minha mente quer me mostrar. 


Como tudo na vida, acredito eu, ter coragem é uma questão de prática. E o medo é seu fiel companheiro.