“Sou feliz com a liberdade dentro da minha gaiola”. Lembro sempre dessa frase que ouvi de um participante do Projeto Homens em 2011. Ter esse nível de consciência, estou cada vez mais convencida, é para poucos. Pelo que percebo, a maioria de nós, sonha com um estado de liberdade que, na prática, temos pouco ou nenhuma coragem de encarar. Mesmo assim, o sonho da liberdade plena nos faz viver com toques de frustração e uma eterna insatisfação impossível de saciar.

Por que temos dificuldade em encarar de frente o desejo da liberdade plena? Porque ela significa romper com as relações. Somos seres sociais e como tais existimos também pelas relações que construímos. Podemos querer isolamento e individualidade, porém, poucos queremos viver como ermitãos. O isolamento e a individualidade que sonhamos busca manifestar nossa personalidade com (certa) autonomia. Ambos permitem que mantenhamos distância da pressão social que quer padronizar tudo e todos.

Por outro lado, a manifestação da nossa personalidade se faz dentro de padrões sociais estabelecidos porque, no fundo, queremos manter relações com o outro. Talvez essa seja a armadilha da tão sonhada liberdade: sonhar com algo que não queremos assumir de fato, pelas consequências que nos trará. A liberdade, como tudo, tem seu preço e o quanto aceitamos pagar por ela, ditará o quanto a viveremos. Mais liberdade, mais isolamento, menos relações.

Talvez se compreendermos essa relação liberdade X consequências, consigamos ter mais tranquilidade com a liberdade que assumimos nas nossas vidas. E quando o desejo dela se expandir bater na nossa alma de tempos em tempos, consigamos respirar fundo, reorganizar nossos desejos e anseios, ampliar aquilo que é possível, ceder naquilo que não é, para continuar equilibrando o sonho com a realidade sem pesar.