Um dos Movimentos Humanos que captamos desde 2010 é o que denominamos da Tal Felicidade. Quando comecei a estudar sobre esse tema descobri que o desejo de felicidade explícito é relativamente novo. O que me levou a pensar que quando era bem jovem realmente eu não pensava em ser feliz, pensava em ter sucesso, em conhecer o mundo, em construir uma vida rica e diferente da que vivia, mas feliz como fim e propósito, realmente não lembro ter tido como objetivo e não lembro que era a dos meus amigos. Então, por que queremos tanto ser felizes hoje?

Existem várias explicações que justificam esse Movimento Humano que captamos na behavior, e tenho escrito sobre eles aqui neste blog, portanto, hoje irei me deter sobre o oposto: por que temos pavor de não sermos felizes? Por que evitamos a todo custo a dor – e aqui meu ponto recai sobre dores simples físicas ou emocionais -, o sofrimento e tudo aquilo que nos traga esforço e peso?

Creio que estamos ficando cada vez mais fracos de espírito e de corpo. Nossa tolerância à dor de qualquer  espécie está cada vez  mais reduzida. Estamos aniquilando a nossa capacidade de reação, de nos fortalecer sem a necessidade de remédios e de drogas que dissimulem os efeitos naturais da vida. Todo mundo sabe que uma criança super protegida se converte num ser frágil com dificuldade de lidar e encarar a vida com todas suas dificuldades e naturais doenças, sejam estas físicas, mentais, emocionais ou psíquicas. O que me leva, inevitavelmente a questionar: por que não queremos encarar a vida como ela é?

Na Europa medieval, criamos o objetivo de sermos quase anjos como moral aspiracional, considerando horrendo qualquer sentimento natural que não seja pudico, virginal e angelical.  Não preciso dizer quão danoso foi para todos nós essa mentalidade.  Agora saídos das trevas da Idade Média, pretendemos ser seres que não sentem dor, tristeza, pena, fadiga, estresse… Que estão sempre felizes, bonitos, bem vestidos, animados… Enfim, sermos quase uns “pastéis alegres”, como me disse uma amiga querida.  Para mim é quase não querer ser um Ser Humano. Entendendo que a vida humana é cheia de altos e baixos, de vitórias e fracassos, de saúde e de doenças. Quem vive a vida na sua plenitude passa por tudo isso e essas experiências nos tornam, no meu entendimento, seres humanos mais fortes e lúcidos.

Hoje, temos pouca paciência com pessoas tristes, que viram “chatas”. Nem nosso parceiro o queremos assim. Quando isso acontece o enviamos logo a um médico que, infelizmente, rapidamente irá receitar um ansiolítico. Pronto. Tudo volta a ser um pastel feliz.  Com esses mecanismos de fuga que instalamos em nós mesmos, não damos tempo para que nossas feridas, que tanto ensinam e nos ajudam a refletir sobre acertos e erros e nos fortalecem para as novas ondas de vida, cicatrizarem.

Não tenho nada contra pessoas felizes e alegres. Mas me preocupo com a necessidade de parecermos o tempo inteiro felizes, muitas vezes escondendo nossos verdadeiros sentimentos e da mesma forma acolhendo pouco alguém que amamos e que precisa viver a sua dor para curar. Precisamos refletir porque como sociedade uma parte de nós está escolhendo ser cada vez menos humanos.