Gosto do que é real. Talvez por ter vindo de uma família que gostava da fantasia, e em alguns casos, da ilusão. Como contraponto sempre apontava o que era irreal. Claro que isso gerava desconforto. Para quem gosta de caminhar pelas sendas da ilusão, alguém que traga a realidade é incômodo. Chato.

Com os anos fui separando os conceitos de ilusão e fantasia. Entendi que a fantasia ajuda a extrapolar, a sair do lugar comum. A ampliar o espectro da realidade. Vejo como positivo e fundamental para ampliar possibilidades. A ilusão, ao contrário, a considero daninha e perigosa. Ela não amplia. Ela falseia. Na falsidade, caminhamos no escuro em direção ao desfiladeiro. Se não pararmos a tempo, a gente cai. Inevitável.

Um novo entendimento desses caminhos sobre realidade, fantasia e ilusão, tive faz pouco tempo: sobre o exagero, o aumento da realidade. Tem pessoas que precisam disso. Todos conhecemos alguém que ao contar um fato, aumenta a história. Como se a realidade não fosse suficiente. Parece não ter graça. Com um pouco a mais, a história fica mais interessante, irão me dizer.

Devo confessar que isso me incomodava. Só que hoje consegui um outro olhar sobre essa forma de expressão. Se – veja bem “se” – esse “aumentar o fato” faz parte do “contar histórias” pode ajudar a tornar tudo mais rico, colorido. Faz que descolemos da realidade para entrar no próspero mundo da fantasia. Nos faz rir, nos faz chorar, nos faz sonhar.

Lembro do filme 300 do diretor Zack Snyder com ator brasileiro, Rodrigo Santoro como Xerxes. Lembro que começa com um homem contando a história de Leônidas, rei de Esparta. Como a tradição oral de contar histórias e estórias, com suas fortes doses de fantasias, nutria a alma dos povos. Como contá-las dessa forma, fazia o povo alimentar seus mitos e herois, tão importantes para o nosso desenvolvimento.

Aumentar e fantasiar a realidade, quando sabemos que é brincadeira e exagero, pode tornar nossa vida muito mais lúdica, ampla, e por que não, divertida.