Gosto dos meus momentos a sós. Muitas vezes, prefiro esse estado físico e de espírito para realizar algumas atividades que me fazem bem. Nada contra a companhia de pessoas que amo, porém, ficar só é quase uma necessidade para meu equilíbrio. Difícil é explicar isso para a maioria das pessoas, o que tem me levado a pensar porque associamos a solidão a algo negativo.

Será que criamos no nosso imaginário coletivo, a ideia de união social que quando saudável, expurga a solidão como um mal? Chegamos ao ponto de criar um outro conceito para a solidão: a solitude. Numa busca rápida no dicionário descubro que eles são sinônimos. O neologismo ainda não chegou oficialmente ao dicionário. Portanto, pensar que solitude transmite a ideia – positiva – de isolamento voluntário, só me faz pensar na dificuldade que temos em pensar a solidão como algo bom.

Lembrei de um rapaz que conhecia e encontrei num evento corporativo. Na saída ele insistiu para almoçarmos. Aceitei pela percepção de um quase desespero no fundo dos olhos. No almoço me confessou que fazer as refeições sozinho o apavorava.Sabe Deus quais traumas e símbolos estão associados à imagem de alguém se alimentando só. Não perguntei. Cansei de jantar e sair com amigos que mais do que minha companhia e a troca que dela poderia surgir, buscavam ansiosamente não ficarem sós. Todos nós conhecemos pessoas que namoram – e até casam – pelo simples terror da solidão.

Por que ficar só assusta tanto? Já ouvi a frase de que quem tem medo da solidão tem medo de seus próprios pensamentos. Outros dizem que se uma pessoa não consegue ficar só, ela simplesmente não se ama. Frases feitas que podem ajudar a refletir, mas como muitas, enquadram algo profundo em respostas fáceis.

Para mim, viver em sociedade é viver só e em conjunto. Ao mesmo tempo. Representa uma forma saudável de estar presente na sociedade, e ao mesmo tempo inteira comigo mesma. A necessidade de isolamento, compreendo hoje, tem a ver como a necessidade de se reorganizar por dentro para conviver melhor com os outros, e consigo mesmo. Assim como toda nutrição precisa de uma digestão para acontecer corretamente, a reorganização interna precisa da pausa solitária. Conheço pessoas que, na dificuldade de ficarem só por conta dos parceiros ou da demanda familiar, usam o pretexto de organizar armário, despensa ou gavetas – tarefas que poucos gostam de ajudar – para ter seu tempo de solidão. Organizando coisas, organizam pensamento, dão o tempo necessário para digerir aprendizados, sentimentos, experiências. Uma pena que precisem de pretexto para realizar algo tão necessário para nossa saúde mental e espiritual.

Acredito que quando estamos nutridos e organizados internamente, viver só e viver acompanhados podem ser trilhas do mesmo caminho. Acredito ainda, que assim conseguimos sermos companhia para alguém com maior presença. O estado de presença – quem já fez aula de yoga ou meditação algum dia na vida, sabe – provem da integridade de estar no aqui e agora. E, como quem trilhou esse caminho sabe, isso só se consegue a sós.