Histórias para confirmar o tema desta semana não me faltam. Poderia aqui selecionar alguns executivos que foram meus clientes e acabaram se tornando amigos e que demonstram exatamente o que a Nany coloca sobre ser formatado no público e mais solto no privado. Poderia contar sobre pessoas que abriram mão do mundo corporativo mais formal, justamente por não se encaixar mais neste modelo de aparências. Mas de ontem para hoje acordei com uma história muito mais poderosa para contar a respeito deste assunto. 

Tenho relatado aqui, muitas vezes, as experiências que venho experimentando desde que decidi viver mais íntegra e una entre a minha vida pública e privada. Um dos preços que se paga ao fazer esta transformação são as pessoas com as quais você conviveu por muitos anos e que, de repente, perde-se a afinidade. Posso dizer que desses 20 anos como publicitária fiz uma grande rede de contatos, mas amigos, que sobreviveram a transição, foram poucos. O que eu estou descobrindo agora é que mesmo os amigos, aqueles que realmente eu guardo no coração e vou continuar procurando e me importando com eles, começam a ter um outro nível de relação e interação comigo. 

Ontem, numa tarde deliciosa com alguns desses amigos, batendo um papo bem filosófico, entendi como a vibração e o impacto entre nós mudou. Com o pôr do sol também foi-se um dos últimos véus que ainda me cobriam. Num determinado momento eu me tornei invisível. Participava da conversa, dava a minha opinião, talvez até mais do que fazia no passado, mas era como se eu não existe mais em parte do mundo deles. Quando eles se referiam aos dilemas da vida corporativa e dos próximos passos em suas carreiras, eles falavam entre si. Quanto a mim? Sinto que me tornava parte da jabuticabeira que nos cobria. 

Não vou negar que fui para casa levemente incomodada com o fato de ter sido expelida do mundo público deles. Magoada até. Mas entendi, rapidamente, que fui eu que optei por me tornar um estranho no ninho.  É claro que eles também não querem mais estar tão ligados as aparências, a uma imagem de poder antigo e sem sentido, do ser forte o tempo todo para ser o mais competente, do ter mais do que ser. Mas o discurso se distanciou muito da vivencia entre nós. De certa forma eu deixei de ser visível mesmo no que eles chamam de público e ainda não importa para eles o que eu agora chamo de público. 

Mas como eu disse, estou falando dos poucos amigos que fiz durante uma vida toda e quero continuar compartilhando bons momentos com eles. Só precisamos ajustar nossos olhares. No fim das contas, no privado, nos afinamos. No público, talvez a gente não se encontre nunca mais, pois eu estou cada vez menos disposta a voltar para o lugar onde nos conhecemos e desenvolvemos uma linda amizade. Mas aí depende de cada um. A vida nos dirá como será daqui para frente.