Acabei de voltar de mais um módulo da Escola Schumacher Brasil. Esta vez aconteceu na Fazenda da Toca que está inovando com sua agrofloresta, um experiência que vale a pena conhecer. Agora o que mais me tocou lá foi a escolinha que eles criaram para crianças de 2 a 6 anos de idade. Quando leio e estudo os conceitos mais atuais de liderança voltados para a sustentabilidade de todo o sistema vivo que fazemos parte – humanos + animais + vegetais + planeta – penso como é importante começar desde cedo os conceitos de empatia, de diálogo e conversa, de lidar com os conflitos sem precisar haver um ganhador e perdedor, de equidade, da visão sistêmica, de integridade e de pertencimento a uma comunidade, mesmo que esta seja global.

Hoje cresceu bastante a utilização do coaching para lidar com nosso futuro profissional e as empresas, sabiamente, andam investindo cada vez mais em Desenvolvimento Humano com o objetivo de que seus líderes e equipes sejam cada vez mais conectados com esse mundo novo que vem se concretizando a cada dia. Há milhares de cursos, livros, treinamentos, retiros, workshops e toda sorte de formas para que nós adultos possamos aprender novas formas de relacionamentos, mais humanizados, mais empáticos e solidários.

Todos nós sentimos que o mundo com seus antigos conceitos de poder e sucesso estão morrendo e que um mundo diferente está se instalando, silencioso mas de forma consistente. Há uma premência interna pela mudança. Todos queríamos estar já do outro lado resolvidos sobre nossa forma de sobrevivência financeira e modo de vida. Estamos agindo, nos informando, abrindo espaço para esse novo tome impulso dentro de nós, só que, por motivos que talvez só Jung, Freud e tantos outros sábios antes de nós consigam explicar, poucos impulsionamos nossos filhos para esse novo mundo.

Costumamos ser mais conservadores com a educação dos filhos. Talvez seja o medo de errar, talvez seja mais fácil usar o conhecido. Seja qual for a razão, vejo pais com boa consciência de todas as mudanças que tratamos neste blog Movimentos Humanos, e mesmo assim incentivando seus filhos a se formarem e instruírem – e não me refiro só a parte formal da educação – conectados com o velho mundo e não com o novo.  Procuram escolas alicerçadas no pensamento estratégico que polariza o mundo, no desenvolvimento em business que pensa na escalada unilateralmente, no talento para obter o chamado sucesso de um mundo que está partindo. Ouço pais dialogarem sobre a preocupação pelo futuro – normalmente financeiro, parece ser a base do que seria uma vida feliz – dos seus filhos, da necessidade de abrir a cabeça através de viagens e vivência no exterior mesmo que sejam nos parecidos guetos que costumam conviver.

Gosto muito, como já disse aqui, da metodologia do Barrett Values Centre (leia mais aqui) que apresenta como nossos valores e crenças nos colocam em níveis de consciências e a partir deles, vemos e lidamos com o mundo. Assim, sinto que urge refletirmos sobre quais valores e crenças estamos transmitindo para nossos filhos que são o nosso futuro, que são os que farão o mundo em que eles próprios irão viver. Precisamos nos abrir para o novo também na forma que pensamos no futuro dos nossos filhos.

Me constrange perceber pais que quando falam de futuro para seus filhos só pensam neles. Na felicidades deles. A felicidade de nosso filhos é nobre e não está em questão aqui, mas sim a visão exclusivista. Só eles que costuma importar. Como se o mundo ao redor não interagisse com eles, não influenciasse nem limitasse ou expandisse sua própria vida. Vai me dizer que o mundo ao teu redor não molda a tua vida, criando limitações, formas e espaços que nem sempre seriam os que você optaria na pretensa e idílica liberdade absoluta? Como podemos ainda pensar na felicidade dos nossos filhos se não o incluímos no mundo em que eles viverão? Não é com o dinheiro no banco nem em carros blindados que conseguiremos que eles vivam uma vida feliz. Não mesmo.

Convido para refletirmos juntos sobre o papel importante deles na mudança do mundo que queremos, inclusive para eles. Precisamos incluir nos nossos desejos de felicidade o mundo que está ao redor deles. Despertar neles o sentido e o sentimento de empatia, solidariedade e integralidade com o sistema que chamamos de Vida neste planeta. O trabalho sistemático do voluntariado, por exemplo, abre espaço para novas relações com as diferenças sociais que o assistencialismo esporádico não consegue abrir.  Muitos pais me dizem que não querem que os filhos tenham contato com a dureza da vida “tão cedo“, como se abrir novas referências seja pior do que viver no gueto. Precisamos despertar neles desde cedo o sentido de propósito, de sentido de vida.  O mundo não está agressivo, duro e difícil a toa, nós com nossa inconsciência, o fizemos assim. É hora de concretizar as mudanças que tantos desejamos também dentro de casa, não só nas nossas vidas, mas no coração e mente de nossos filhos.

Para continuar a inspirar nossa reflexão, recomendo o filme O Começo da Vida. Boa semana.