Há mais de três décadas que frequento cursos, seminários, congressos, eventos, palestras e grupos de discussão sobre os temas mais diversos. Mesmo que os temas versem sobre o amplo mundo das ciências humanas, posso afirmar que nesses anos todos, a maioria dos participantes era mulher. E antes de continuar, e alguém levante dúvidas, trago aqui como fonte, o censo realizado pelo Inep, órgão do Ministério da Educação (censo de 2017): elas são 55% dos estudantes ingressantes, 57% dos matriculados e 61% dos concluintes dos cursos de graduação. Na licenciatura, por exemplo, 70,6% das matrículas são do sexo feminino”.

É claro que com mais mulheres do que homens investindo no conhecimento e no autoconhecimento, década após década, haveria consequências nas relações do dia a dia. A cada entrevista que realizo com homens e mulheres sobre a vida e as relações românticas e afetivas, noto as consequências nocivas desta disparidade. Para um diálogo fluir bem em qualquer relação, o nível de consciência dos participantes deveria ser similar. Especialmente se a relação é romântica e afetiva porque nela costuma se trazer à tona temas delicados.

A consciência influencia profundamente a qualidade do diálogo. Evidente, que não havendo similaridade, caminhos existem para promover um diálogo de qualidade. São manobras que facilitam o entendimento em níveis de consciência diferentes. O que acontece nas relações românticas e afetivas é que, geralmente, ficar organizando o tempo inteiro manobras para que o outro entenda e dialogue, cansa.

Quanto maior o conhecimento, maior capacidade de relacionar assuntos aparentemente distantes. Quando maior o autoconhecimento – que nem sempre está ligado ao conhecimento cognitivo – maior capacidade de relacionar e se relacionar com os diversos mundos, internos e externos. Maior capacidade de percepção, de compreensão, de análise, de enxergar e se enxergar. Capacidade de julgar e se autojulgar.

Nas relações do cotidiano amoroso e afetivo, todos erramos. Todos agredimos ou machucamos sem querer. Todos perdoamos para continuar. Quando os erros se repetem, o diálogo serve como forma de alerta. De trazer à luz algo que talvez ou outro faz e não esteja percebendo que machuca. Faz parte da troca de experiências e visões de mundo entre dois seres com histórias de vida diferentes. Faz parte da sabedoria nas relações ir aprimorando esse entendimento do que agrada, do que machuca, do que pode ser evitado e do que não deve ser evitado.

Quando a ação se repete insistentemente, o diálogo pode servir de alerta de que o limite está chegando. Nesta etapa acredito que se os níveis de consciência estiverem distantes, o entendimento será baixo. Por uma simples capacidade de baixa autopercepção e compreensão sobre o outro. Quem não entende de si mesmo, dificilmente entenderá sobre o outro. O julgamento será seco, duro e a possibilidade de se fechar mais em “sua” verdade é grande.

Uma etapa comum após as diversas tentativas de obter um diálogo produtivo é levar o par para cursos, insistir que faça terapia, coach ou qualquer outro trabalho de autoconhecimento. Até trabalhos menos ortodoxos como os esotéricos, valem. Tudo vale na tentativa de “abrir a cabeça”. Poucas vezes funciona. Aprendi nestes anos todos de pesquisadora e estudiosa das relações entre seres humanos, que só aprende e evolui seu nível de consciência quem quer. Às vezes, um trauma incentiva. Outros, nem com isso.

Sendo as mulheres que mais investem em autoconhecimento, podemos supor que o nível de consciência pode estar melhor nelas do que nos homens  da sua geração. Suposição que meus estudos mostram que é bem provável que seja a realidade geral. Tenho me perguntado o que fazer. Mais e mais mulheres, com um bom nível de autoconhecimento, estão cansando. Várias estão com medo da solidão, especialmente a futura. Todos temos em nós a crença que a relação amorosa e afetiva, quando bem resolvida, é o melhor dos mundos. E talvez essa crença seja verdade. O difícil, realmente, está sendo ela ser bem resolvida.