Ambiente intimista, poucas e queridas pessoas, todos esperando a chegada do Richard Barrett ao nosso encontro. Quando chega cumprimenta um a um, brinca com alguns, senta e começa nosso jantar com a pergunta: o que te faz feliz? Silêncio e introspecção. Responder essa pergunta nem sempre é simples, especialmente se quem a faz é um dos maiores estudiosos de valores da humanidade da atualidade.

Como tenho escrito aqui, a busca pela felicidade é um dos Movimentos Humanos mais fortes, propagados e aceitos hoje em dia. Decidimos que devemos ser felizes. Que a vida vale a pena quando conseguimos esse objetivo. Embora nos coloquemos – de novo – no centro do universo, atender esse objetivo nos leva à necessidade de saber o que nos faz feliz. E esse saber passa, se quisermos uma resposta verdadeira, pelo autoconhecimento.

Fui uma das últimas em responder o que deu tempo de me interiorizar na pergunta. Primeiro me veio a associação da felicidade com um momento de muita alegria. Tive no final de semana anterior um momento desses e o que lembrava era do riso solto, quase uma explosão incontrolável que durou por algumas horas. Depois lembrei dos meus momentos de solidão nas montanhas. Totalmente diferente, é uma felicidade que me inunda e me emociona ao ritmo e som do vento. Lembrei de meu tempo na minha casa, com as pessoas mais íntimas ao meu redor dentro do mundo amoroso que construímos juntos.

Refletindo sobre essa deliciosa noite e sobre a pergunta capciosa com que o Richard iniciou seu tempo conosco, me dei conta que praticamente todas as respostas tinham duas coisas em comum: a primeira era que apresentavam situações em que cada um podia ser quem realmente era. Tarefa difícil em tempos de repressão ideológica, com modelos fechados do que é certo e errado e rostos sempre felizes projetados em redes sociais afirmando formas estabelecidas pelo mainstream. A segunda, eram situações simples nas quais o dinheiro tinha pouca relevância.

Todos nós sofremos influência dos modelos externos, e muitos de nós passamos a vida seguindo os passos daqueles que colocamos como guias. Fazer o que eles fazem, viver um pouco como eles vivem, nos faz sentir que também somos parecidos, ou quem sabe iguais. Considero vital, mais ainda nestes tempos de transição de valores, nos abrir para modelos diferentes; assim como, considero suicídio da alma, seguir modelos fechados em estruturas rígidas.

Ouvir a nossa alma é nos ouvir, já que somos a nossa alma, como diria o Richard. É através dela, de quem somos, que deveríamos produzir nossa vida, expor nosso ser e interagir com o mundo. Ao interagir, naturalmente, vamos moldando parte de nós, para nos adaptar. Mesmo assim, a nossa força vital, nosso sopro de vida, se manteria original, mesmo adaptada à realidade. No fim, pensando bem, estamos falando da liberdade de expressar nosso ser.

Oxalá que consigamos quebrar esse conservadorismo dominador e impositor de modelos que está forçando sua volta na nossa sociedade em nome do Deus – coitando do bom Deus – para que possamos contribuir com o mundo com a nossa felicidade ao sermos quem somos, na amorosidade e no respeito mútuo.