Há uns 15 anos eu estranhei quando uma cliente, gerente de marketing de uma grande empresa de telecom, pediu demissão e para ser professora de ioga. Pensei na coragem que se precisa ter para abrir mão do dinheiro e do status que o cargo dela representava. 

Hoje eu não me impressiono mais. Frequentemente recebo notícias de amigos ou conhecidos que largou um emprego fixo para se dedicar a algo alternativo,  abrir um negócio próprio ou mesmo cuidar dos filhos. Isso sem contar com aqueles que resolveram viajar o mundo, trabalhando remotamente, afinal, isso já é mais do que possível. É lógico que ainda é um comportamento minoritário, provocado por uma parcela específica da nossa sociedade, muito concentrado nos grandes centros e nas classes mais abastadas. 

Mas esta semana tive uma conversa muito interessante com a moça que trabalha na minha casa e que me mostra que este movimento vai demorar menos do que se imagina para acontecer.  Ela reclamava que está cansada de ficar no trânsito todos os dias e que tudo aquilo estava sufocando a vida dela. Me disse que se tivesse a oportunidade de ir embora para um lugar mais calmo,  iria. Como sei que seus pais vieram do campo questionei se ela estava querendo voltar as origens e trilhar o caminho deles. Ela me respondeu, seguramente, que não se tratava disso. Ela quer que a filha estude em uma boa escola, quer ter uma vida urbana, mas hoje já não importa mais para ela entulhar a casa com todo o tipo eletroeletrônicos e eletrodomésticos como fazia antigamente. Também não interessa mais comprar roupas para se diferencias das vizinhas e amigas nos bailes do fim de semana.  Quer uma vida mais simples, com qualidade de vida. Palavras dela. Disse a ela: “então vá atrás disso!”.  Ela riu deixando claro que ainda é um desejo, mas creio que mais dias ou menos dia isso irá acontecer. 
Me lembrei então do nosso debate desta semana no blog. O que é esse desejo dela se não o de ser feliz? E não se importar mais com a vizinhança é um sinal claro de como os valores vão mudando. Os ícones que a apoderavam a partir dos bens materiais já deixou de ser importante para ela e, no futuro, assim será para boa parte das pessoas.