Ontem quando entrei no táxi quem estava me aguardando era Seu Adelson, um nordestino de Aracajú que mora em São Paulo há 41 anos. Evidente que a conversa derivou-se para os acontecimentos políticos dos últimos dias e em especial da passeata de domingo, que teve o maior número de participantes, segundo li, da história do Brasil.

Seu Adelson queria falar, falar muito, estava indignado, estava impaciente, estava, depois de um certo tempo percebi com raiva… agora eu compreendo que ele estava era com dor. Uma dor profunda.

Seu Adelson veio para São Paulo como milhares de nordestino o fazem todo ano. Buscar um futuro melhor. Trabalhou duro, sol a sol para poder sair da linha da pobreza e poder educar seus filhos, oferecer uma vida melhor. Ele me pareceu aquele tipo de nordestino que encontrei bastante em São Paulo que mesmo com o sotaque forte termina se distanciando das suas raízes e quando volta para sua terra, encontra pouco sintonia na forma de viver e na visão de mundo com seus conterrâneos.

A indignação de seu Adelson era pela perseguição que estavam fazendo para o Lula. Começamos obviamente uma discussão, ou melhor, eu tentava argumentar mas ele não deixava, ele me cortava, e iniciava um rosário de argumentações como as que a Globo, a Veja, o Estadão, a Folha, e qualquer outro veículo de comunicação eram da elite e estavam mentindo. Eu dizia que havia fotos (sobre os objetos entrados nos cofres do Lula que foram retirados do Palácio de Governo) e ele dizia que tinham sido criadas. Naquele momento lembrei de um documentário que assisti há muitos anos em que um repórter começa a argumentar com jovens em algum lugar do Oriente Médio sobre a existência do Holocausto (sim, isso mesmo) e os jovens negavam e diziam que tudo tinha sido inventado pelos americanos com ajuda dos europeos. nesse momento compreendi que seu Adelson não quer a verdade, quer é não saber que se enganou.

Compreendi que era melhor deixá-lo falar. E fazer algo que aprendi com minha profissão ouvir com o coração.