Imagine uma mulher bonita, cheia de postura, que anda com as costas eretas deixando claro que se trata de uma pessoa segura e cheia de si. Imagine ainda que esta mulher passe até uma certa arrogância no olhar e uma atitude de eu sou capaz de resolver meus problemas sozinha.  Agora imagine que você tem poderes especiais e pode olhar além daquela postura de confiança e, lá dentro, você se surpreende ao ver uma menina insegura, confusa, frustrada e cansada de carregar esta máscara de mulherão forte, confiante, poderosa. Não é incomum. Pelo contrário, é bem mais fácil que isso ocorra com a maioria das mulheres com este perfil. Como diz Jung, em O Homem e seus Símbolos

“Todos nós podemos sofrer uma dissociação e perder nossa identidade. Podemos ser dominados e perturbados por nossos humores, ou tornarmo-nos insensatos e incapazes de recordar fatos importantes que nos dizem respeito”.

Falar de identidade e autoconhecimento é sempre algo fascinante, porém, na prática, ainda é um dos grandes dilemas que enfrentamos no cotidiano.  Sou uma entusiasta do assunto porque durante anos senti que vivia com um “mal-estar” permanente dentro de mim. Era algo que não conseguia explicar e convivia com isso em silêncio sob a máscaras que variavam da boa menina comportada a mulher inatingível. Confundi, muitas vezes, com questões físicas tais como sou gorda, sou feia, sou estranha, sou grande, sou cabeçuda. Outras vezes a tentativa de explicar a sensação era emocional: sou tímida, sou burra, sou inteligente demais, sou incapaz, sou incompreendida. E era mais do que óbvio que, ao achar que tinha descoberto o motivo para tamanha inadequação, agia de alguma forma para tentar amenizar o eterno mal estar. Porém nada do que eu fazia era suficiente. 


Lembro, por exemplo, depois de passar boa parte da vida me achando gorda,  um dia decidi que ia ser magra. Tinha na cabeça um objetivo de peso e não tinha médico ou personal trainer que me convenceria de que o peso que eu considerava ideal era, na verdade, até perigoso para a minha saúde. Quando finalmente cheguei no meu objetivo a frustração foi enorme, pois, a única coisa que descobri é que não tinha encontrado a felicidade por causa disso e ainda sentia a megera sensação de incômodo dentro de mim.  Foi então que me convenci que não existia outro caminho se não o de encarar, de fato, o que era isso que tanto me incomodava. Não com possibilidades vindas de crenças desgastantes, mas com um trabalho sério e focado no autoconhecimento. O que não fazia da mulher que existia dentro, a mesma que existia fora? Quais eram os sinais que eu emitia para o mundo e que não faziam o menor sentido para a minha essência? Um difícil exercício que durou anos. Na verdade nem acabou. Nunca acaba. E o pior: conhecer apenas, não significa abandonar os padrões. O que só dá mais desespero num primeiro momento, pois viver a sua verdade plenamente, muitas vezes, requer uma certa dose de coragem e ousadia. 

Mas a sensação descrita ontem aqui no blog de que além da felicidade passageira existe algo maior que é o contentamento dentro de cada um é vigoroso, pleno, maravilhoso. Vale a pena a busca. E como buscar? Outro dia uma amiga me perguntou isso. Respondi a ela com toda sinceridade: É impossível dizer qual o melhor método. É preciso encontrar aquele que melhor se adequa a cada um. Já fiz de tudo nesta vida: de psicanálise a aura-soma, reike, radistesia, acupuntura, ioga, dança corporal, coaching emocional, etc etc etc. Muitos não passei de algumas sessões, outros continuo fazendo. Mas esta sou eu: curiosa, aberta ao holístico, ao alternativo. Se vai funcionar para a minha amiga? Provavelmente sim e não. Ela precisa experimentar. A única coisa que não podemos fazer é ficar lá, parada, sentido todo a inadequação de estarmos vivendo algo que não somos e nada fazer. Os caminhos se abrem para aqueles que se buscam. Esta é a única certeza que levo no coração.

Termino contando uma historinha que nunca sai da minha cabeça. Um terapeuta me perguntou, certa vez, com que animal eu achava que me parecia ao andar. Eu, sem hesitar, respondi: Sou um elefante!  Pesado, desengonçado, sem charme.  Hoje acho esta resposta engraçada. Não que agora eu consiga me sentir o animal mais encantador do planeta (preciso me trabalhar muito ainda para isso), mas consigo, ao menos, achar que posso ser um pássaro para voar livremente e ir aonde eu desejar. É bom ser pássaro. O elefante, volte e meia, ronda os meus pensamentos e aí penso que poderia ser um elefante voador! Tenho a impressão que o terapeuta acharia que enlouqueci de vez. Mas é divertido ter a leveza de rir de mim mesma. Sinal de que, pelo menos, uma coisa eu aprendi: não preciso ser tão rigorosa e séria o tempo todo. Brincar comigo mesma já foi um grande passo.