Ontem uma menina de 5 anos me falou que não estava gostando da sua nova escola porque o pátio era grande demais, tinha muitos brinquedos, muita gente correndo. Estranhei o motivo e questionei se isso tudo não era bom. Ela me olhou entediada e respondeu: “Preferia como era na minha outra escola, menor, mais calmo”. Como adulta chata que sou argumentei que pelo menos ela estava numa escola muito boa, uma das melhores de São Paulo e que isso seria muito importante para ela no futuro. Ela meio sem interesse argumentou: “Esta escola já teve dias melhores. Hoje nem é tudo isso”.

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Com medo de onde ia parar a conversa achei melhor encerrar o assunto e dar um mergulho. Sim, isso era um papo na piscina do prédio! Mas o que era para ser uma conversa completamente despretensiosa me acompanhou pelo dia. Fiquei imaginando que nós, adultos, também temos a mania de fazer comparações entre o velho e o novo e, normalmente (esta é a parte chata), em nossas comparações o que é conhecido, ou seja, o velho, num primeiro momento parece mais legal do que o novo (aquilo que ainda não conhecemos).

Para não fugir a regra, fiquei tentando imaginar as possibilidades que a mãe da menina teria para solucionar a questão e, tentar desta forma, traçar um paralelo com o que costumamos fazer em nossas vidas. Pensei em três possibilidades:

1) ela poderia encontrar uma nova escola para a menina – o que daria um trabalho enorme já que conseguir uma vaga numa escola “badalada” em São Paulo não é coisa fácil;

2) a menina poderia voltar para a antiga escola o que não resolveria o problema, pois pela sua idade, no ano que vem, ela teria mesmo que sair de lá por se tratar de uma pré escola;

3) esperar, a menina vai se adaptar, afinal, não faz nem 3 dias que as aulas começaram. É provável que a terceira opção aconteça e, no próximo encontro na piscina, a menina deve me contar empolgada o quanto a escola dela é legal, a melhor que existe no mundo! Adoro quando as crianças falam isso!

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A capacidade do ser humano em se adaptar, para mim, é uma das maiores dádivas. Por mais desconfortável que seja, nós sempre nos adaptamos. O curioso, e este papo todo me fez refletir a respeito, é que parece que nós nunca confiamos o suficiente nessa nossa capacidade. Talvez se tivéssemos isso mais claro, curtiríamos mais os novos momentos, nos entregaríamos mais ao novo, sem comparações a respeito. Não estou falando de acomodação e sim, de adaptação. É fácil confundir. A grande diferença, eu acho, é que nem todo mundo tem capacidade de acomodação, mas todo ser da natureza, se adapta.

Eu trouxe uma muda de flamboyant da praia neste último verão. Quando cheguei em casa pensei que eu deveria estar louca de ter feito isso, afinal, eu moro num apartamento, numa cidade grande. “Coitada da árvore”, pensei, “as chances de sobrevivência dela aqui é mínima”. Pois não é que a “bichinha” está linda, forte e crescendo lá na varanda? A diferença é que ela simplesmente aceitou a sua nova condição e despencou a crescer mais e mais. Enquanto isso….eu e minha pequena amiga, vamos para piscina esfriar a cabeça para tentar nos adaptar às nossas novas condições.

 
Até uma árvore cresceu dentro deste carro em Colônia do Sacramento, Uruguai