Desde muita pequena ela decidiu que seria independente e achou que isso tinha a ver com dinheiro, sabe-se lá por quê. Dizia, com certo deboche, que teria vergonha de ter que pedir dinheiro para o marido – caso viesse a ter um. “Imagina ter que pedir dinheiro até para comprar minhas panelas”. Adorava esta frase!

Aos 16 anos arranjou um emprego. Interessante que não foi movida pelo desejo de se livrar financeiramente dos pais. Muito pelo contrário: queria restaurar a confiança deles, perdida num ataque de rebeldia da noite para o dia – coisa até comum na adolescência. Reconquistou a confiança dos pais e ainda começou a receber salário. Pequeno, é bem verdade, mas dinheiro de qualquer jeito. Já de cara viu que não tinha lá muita intimidade com o assunto. Recebeu num dia e gastou tudo no outro. Economizar não era matéria da escola e nem passou pela cabeça que poderia fazer algo maior com o dinheiro que merecidamente recebeu (mal sabia ela o que este hábito poderia ter feito ao longo da sua história…). 

Depois entrou na faculdade, começou a estagiar, já ganhava um pouco mais. Outros desejos de consumo começaram a lhe interessar. Primeiro pequenos luxos que sempre quis ter, mas a família sempre achou bobagem. Depois mudou o estilo de se vestir. Deixou de ser surfista, passou a ser boêmia. Suas novas amigas tinham roupas lindas. Por que ela não teria também? Já estava trabalhando com “carteira assinada” quando se formou, recebendo um salário bem descente. Noivou, casou e a promessa se cumpria: as panelas ela comprava, embora nem tivesse tempo para cozinhar. Trabalhava muito, adorava trabalhar. Queria mais, queria tudo que a boa vida pudesse dar. Teve filho e queira muito para o filho também. Queria de tudo, queria mostrar, queria ter, desejava, necessitava. Foi de emprego em emprego caminhando em direção ao sucesso e de mais dinheiro. 

Separou-se, recebeu o convite para mudar de cidade. Negociou um preço. Pagaram seu preço. Foi parar na cidade grande: muitos lugares para conhecer, muitas lojas para comprar, muitos desejos a conquistar. A metrópole era cara, mas lá estava ela “conquistando” o mundo. Recebia salário, bônus, crescia na profissão. Precisava de roupas caras, bolsas, carros. Objetos de poder, afinal, é difícil a vida de mulher que luta. E de tanto lutar merecia comprar. “Mereço um presente aqui e outro ali”, ela dizia. Separada, na cidade grande, com cargo de diretora, sentia-se sozinha e comprar ajudava a passar a sensação ruim da solidão. Foi demitida, mas tinha um contrato que lhe deu o direito a uma boa quantia em dinheiro. Arranjou outro emprego rapidinho, era boa no que fazia aquela menina!  E mais dinheiro tinha para poder comprar seus luxinhos. Cresceu no outro emprego. Degrau a degrau. Lutando. Muito trabalho. Merecia ter uma vida de conforto e por isso dava-se ao direito de ter. Quando se sentia vazia e meio desesperada, logo dava um jeito de encontrar alguma desculpa para mostrar como era feliz por ter tudo que tinha, além de uma vida confortável, um bom emprego e, lógico, a tão sonhada independência financeira.

Mas um dia a verdade apareceu, nua e crua. O trabalho que até então era uma grande satisfação, mudou completamente. Novas pessoas no comando da empresa e novos princípios que nada tinha a ver com a pessoa que ela era. Foi tomada pelo desejo profundo de abandonar aquele emprego, ir embora num dia e nunca mais voltar. Estava cansada também. Tantos anos de trabalho e de luta! Desejava diminuir o ritmo. Planejar com calma um novo caminho. Mas o que fazer? Ou melhor, como fazer?

Poderia ter feito isso se tivesse se planejado, mas agora tinha que enfrentar a sua verdadeira condição. Aquilo que ela chamou a vida inteira de liberdade era mesmo a sua escravidão. Ganhou muito dinheiro, mas não lidou bem com o assunto e lá se foi tudo do mesmo jeito que veio. Nada tinha, além de dívidas. Pior que isso: até o apartamento próprio estava hipotecado – o que fazia com que não restasse outra alternativa se não ter o dinheiro para pagar altas prestações. Que outra alternativa se não no emprego ficar?

Mas encarar a verdade também lhe trouxe força para ver que liberdade que tanto desejou morava mesmo dentro dela. Encarou com coragem o que tinha que ser encarado. Agradeceu por este ensinamento e está aprendendo a viver de uma forma diferente. Esta história é verdadeira e a pessoa que me contou me pediu anonimato. Não porque tenha vergonha da sua história, pois já entendeu o caminho, mas porque ainda está no processo de limpeza e cura. Na verdade eu insisti para contar, pois esta é um outra lado da liberdade a qual nos propomos debater esta semana. 

Muitas pessoas enfrentam a escravidão pelo dinheiro – seja por querer cada vez acumular mais riqueza, ou seja como a mulher desta história que se iludiu achando que consumir preenchia o seu interior. A maioria das vezes, trata-se de um enfrentamento solitário, cheio de vergonha, por não saber como agir. Mas quanto mais atento se estiver, mais fácil ficará fazer a mudança poderosa de crer que quanto mais se possui, mais se é para você é e para isso prospera e tem.

Deepak Chopra, no seu livro As Sete Leis Espirituais do Sucesso, diz:
A mudança consciente acontece por meio da manifestação de duas qualidades inerentes à consciência: a atenção e a intenção. A atenção energiza; a intenção transforma. Quando você concentra a sua atenção em alguma coisa, ela fica mais forte em sua vida. Ao contrário, quando você afasta, a coisa enfraquece, desintegra e desparece (…) Mas a intenção é o poder que move o desejo. A intenção por si só é muito poderosa, porque é o desejo desvinculado do resultado. O desejo sozinho é fraco. A intenção é o desejo com estrita aderência a uma consciência superior.
Portanto, no dito popular: “olha o que você pede para a fadinha, pois ela é bem capaz de te atender”. Saiba pedir e será próspero. Apenas deseje e poderá se tornar escravo de uma situação. É o que a história de hoje me ensinou.