Como disse a Nany no texto que abriu o blog esta semana: somos seres binários. Acreditamos no certo-errado, preto-branco, bem-mal.  Fiquei aqui refletindo sobre o tema e como isso impacta a minha vida. Não tenho dúvida que faço um exercício sobrenatural para ver as nuances que existem entre o preto e o branco (para ficar apenas numa metáfora). E concluí que boa parte das minhas angústias nascem daí: eu gosto do branco, então por que escolho o preto? Eu sei o que é certo então por que fiz errado? E dá-lhe tapa na cara de mim mesma!


Fotos de Rui Piranda, o dono dos sapatos “pares diferentes”


Lembrei então de um amigo querido, dono dos sapatos (sutilmente diferentes) que ilustra esta publicação, que sempre diz: “Não me cobre coerência”. Adoro esta frase.  Somos pouco coerentes, embora binários. Aliás a história do meu amigo também passa por este tema. Outro dia ele me aparece com esses sapatos. Quando percebo e demonstro surpresa, ele me fala: “Adorei esses sapatos! Eles me falam sobre duas coisas”. 

Segundo ele, o sapato o convida a lembrar que mesmo os pares não são iguais. Para ele isso é muito mais do que um simbolismo, pois ele tem filhos gêmeos, um menino e uma menina – um par nada igual! Não apenas pelos gêneros, mas a personalidade de cada um, os anseios, as necessidades. Acredito que ele mesmo, até hoje, surpreende-se pelas diferenças dos “iguais”.

O segundo lembrete do seu sapato é sobre a visão que ele faz de si mesmo: quantas vezes olhando para direções diferentes! Querendo de um jeito, fazendo de outro. Acreditando em algo e experimentando outra coisa. Este meu amigo é diretor de criação de uma agência de publicidade. Um dos melhores profissionais que conheço e, como o seu ofício é manejar a criatividade, pode parecer mais comum para ele ser flexível do que para as outras pessoas. Ter assim um olhar menos binário, mais amplo. Mas quem o conhece sabe que nem para ele é fácil. 

Se quisermos deixar o papo mais cabeça poderíamos falar de ID e superego: eu quero, eu preciso. Freud, coisa e tal. Mas já é complexo o suficiente para tentar filosofar ainda mais, não é? O melhor, eu acho, é relaxar e divertir-se. Comprar um sapato assim pode ser um bom começo.