Hoje tinha a intenção de falar sobre as senhorinhas poderosas, conhecidas também na rede como “sexalescentes”, mas uma palavra tomou conta de mim  e enquanto não tirar isso da frente, não vou conseguir escrever sobre mais nada.
A M O R O S I D A D E.
Esta é a palavra. Me perdoem se está virando um vício, mas tenho ido atrás da essência das palavras antes de falar sobre elas. Sendo assim, na definição do Aurélio, o dicionário, AMOROSIDADE é um substantivo feminino que significa qualidade do que é amoroso (amoroso+dade). Portanto a palavra que de fato procuro é amoroso, a qual o mesmo Aurélio, explica como sendo um adjetivo com alguns significados:
Que sente amor
Amorável; propenso ou inclinado ao amor
Brando, suave
Doce ao tato, liso, macio
A título de curiosidade, amoroso também pode ser um substantivo masculino que significa o galã de uma peça teatral. Além de ser uma planta espinhosa empregada em sebes vivas, no Sul de Minas Gerais. Não que eu saiba o que seja “sebes vivas”, mas o Aurélio tem dessas: mata um curioso porque seu saber não tem fim. Portanto, deixei o significado botânico de lado.
Sou amorosa. Me refiro ao adjetivo. Herança do meu pai. Da minha mãe herdei a potência (pleno poder) e sempre me perguntei se essa combinação não era estranha. Sou de uma época onde ainda o mais comum era ter mães amorosas e pais poderosos. Mas isso é assunto para outro dia.

Enfim esta característica (ser amorosa) nunca atrapalhou – nem ajudou – diretamente na minha carreira. Até o dia que recebi um feedback que ser assim era um problema e eu precisava me tornar mais agressiva. Do dia para a noite minha amorosidade ameaçava não só a mim, mas a uma equipe toda.
Eu sou amorosa, mas não sou ingênua. Eu entendo que o mundo corporativo precisa de pressão, agressividade, força, etc, etc, etc. Quantos nomes mais se dá para a força motora que move empresas, capitalismo, consumo, dinheiro? De mais a mais, se quisesse fazer da amorosidade uma profissão, teria sido freira e trabalharia num convento. O que quero dizer é que apesar de entender o feedback e – até considerá-lo genuíno – minha vida profissional nunca mais foi a mesma desde então.
O que eu descobri é que a palavra agressividade virou desculpa para falta de educação, desrespeito, insegurança, egoísmo, maldade, violência (até) e tantos outros adjetivos que circundam empresas e profissionais. Agora vou provocar, nós mulheres, que nos gabamos tanto por termos conquistado nosso espaço neste ambiente público: não ajudamos em nada a suavizar os equívocos do que seja agressividade corporativa, digamos assim. Pelo contrário, nós só pioramos isso. Costumo observar as mulheres nos elevadores onde trabalho: sempre dando ordens, mandando, ameaçando. Tenho a impressão que por baixo do terninho Chanel bem cortado, elas vestem aquela roupa do Rambo. Estão em guerra. São bélicas. E me pergunto: por quê? Medo? Reflexo? Intuição? Memórias herdadas de um passado de opressão? Tudo bem, eu entendo, mas ainda assim, eu me pergunto: por quê?
Às vezes me pego pensando em como seria o ambiente corporativo se as mulheres tivessem trazido mais qualidades femininas para ele. Teríamos equipes mais harmônicas, suaves, leves? Talvez não combine mesmo, mas eu adoraria experimentar.
E quanto ao meu feedback (se é que alguém está interessado nele): já vivi o suficiente para saber que a proporção da minha agressividade é igual a da minha amorosidade e me decidi pela última. Estou tentando fazer disso uma qualidade e não um defeito. As cenas dos próximos capítulos ainda estão por vir.