Quem entra num supermercado ou feira de verduras ou frutas 100% de orgânicas pela primeira vez, precisa ir preparado para acostumar o olhar para um novo conceito visual do que é bom, belo e apetitoso; caso contrário é bem possível que saia correndo e pare no primeiro supermercado com produtos cheios de agrotóxicos para comprar, com a pressa que a busca por alívio costuma trazer.

As verduras e frutas orgânicas costumam estar longe da estéticas de nossas cenouras, alhos, peras e maças de todo dia. Menores, tortas, muitas vezes sujinhas e sem aquela cor vistosa que parece pintada a mão, eles se apresentam para nós como são: frutas e verduras naturalmente frescas e saborosas, mas sem artificialidade. Em que momento perdemos o contato com o que é bom e belo naturalmente?

O pai de uma querida amiga, polonês de nascimento conhecia a sabedoria da terra. Na sua casa num bairro, na época, afastado do burburinho de Curitiba, criou uma horta que hoje minha amiga está revivendo-a trazendo à memória os ensinamentos de seu pai. Dele eu lembro uma frase que me acompanha quando vou comprar frutas orgânicas “se está bichada é porque está boa. O bicho sabe muito bem escolher a melhor fruta“. Quanta sabedoria, Seu Antonio!

Fomos dando tanto poder à mente humana, criando tecnologias, tanta abstração sobre o que é perfeito, que fomos nos distanciando do que é naturalmente perfeito. Hoje nosso conceito de belo está associado a uma estética perfeita artificialmente.  O que é natural nos parece pior. Sou a favor da tecnologia e do que a mente é capaz de conceber e sei que a questão está mais no uso do que na tecnologia em si, portanto meu ponto é sobre como fomos moldando os conceitos do que é belo, saudável e bom (nesta seqüência de significados associados para este post). Olhe a foto que ilustra este post e reflita qual cenoura e alho te parecem mais saborosos? quais são a única cenoura e o único alho que não são orgânicos?

Quando vejo um doce todo viscoso, logo penso na quantidade de gordura trans que deve ter. Quando me aproximo de uma rosa imensa e magnificamente aberta logo vem à mente a probabilidade que não exalará seu característico e natural cheiro que eu conheci na infância. Dificilmente me engano.

Estamos em pleno Movimento Humano da Desestruturação (quer saber mais? click aqui), alguns ainda ruindo estruturas, outros se liberando dos escombros; e outros como eu, nos movendo para criar nossas novas formas e estruturas de vida. O belo é fundamental para nosso desenvolvimento e alimenta a nossa ética sobre as nossas atitudes para com a vida, mas qual é o belo-saudável-bom que queremos para nós, para nosso futuro? Aquilo que se apresenta acima de seu tamanho natural – saberemos qual é o tamanho natural? – vistoso e com suas formas perfeitamente desenhadas como saído de um filme hollywoodiano? Mesmo sabendo que terá um alto percentual de artificialidade, química e agrotóxicos?; ou aquilo que, como a natureza, tem formas únicas, nunca iguais, de tamanhos variados e normalmente concentrados e com cores variadas mas dificilmente vistosas e lustradas? É uma escolha, como quase sempre.

Boa parte do mundo está caminhando para uma vida mais orgânica – no sentido mais amplo do conceito – e um dos passos desse caminhar implica em reprocessar nosso cérebro para reaprender a identificar o que é naturalmente belo, saudável e bom.

PS. co-produção da foto Maria Rocio do Rosário 🙂