Sabe quando parece que tudo vai se fechando, se estreitando? Quando por mais esforço que façamos, as coisas não andam ou respondem como esperávamos? Alguns podem associar esse período à crise do país ou mundial, mas eu associo ao início de novo ciclo.

Aprendi desde jovem a compreender que a vida é feita de ciclos. Queiramos ou não, são eles que regem nosso tempo interno e externo. Quando conectados à fluidez da vida, os ciclos se mesclam com nossas decisões e nossos processos internos de morte e renascimento. Precisamos abrir espaço para o novo e isso se faz deixando morrer velhas formas. Muitos de nós compreendemos esses conceitos através de leituras, meditações, palestras e trocas entre gente conectada com o novo mundo que está se instalando. Assim estamos liberando armários, liberando memórias, rompendo com aquilo que nos ata a uma parte de nós que não nos serve mais.

Só que o processo de limpeza e desapego nem sempre traz o novo. O novo precisa surgir e para isso acontecer precisamos da pausa assim como a morte precisa do período de luto. Sábias as religiões que em tempos modernos onde a urgência dita o ritmo, promovem o tempo de luto.  Com a passagem de minha mãe para outro plano espiritual, aprendi que o luto dura um ano. Precisei da primavera, do verão, do outono e do inverno para curar feridas e ir me acostumando à presença da minha mãe de uma outra forma. Quando o processo acabou pensei que estaria pronta para retomar a minha vida.

Ledo engano. A pausa se instalou. Retomar após a morte do velho, significa muitas vezes, voltar a fazer o mesmo. É o hábito que se instala no corpo e faz a gente repetir caminhos, formas, idéias. É tão confortável! Quando o voltar a agir está associado à sustentação financeira, então, ai que o antigo volta com urgência. Temos tendência a fazer aquilo que nos trouxe até aqui. Só que o que nos trouxe até aqui dificilmente nos irá levar para o novo patamar. Ele serve de background mas não de diretriz.

O novo precisa brotar, e tal qual uma semente, leva um tempo no útero da terra para se manifestar. Precisa de cuidado e alimento. E principalmente, precisa de tempo. O tempo da reflexão, o tempo do silêncio, o tempo do crescimento. Muitos me dirão, como fazer isso se tenho contas para pagar? Mesmo trabalhando, mesmo agindo no modus operandi antigo, é necessário abrir espaço para o novo, através de pequenas atividades diferentes daquelas que você sempre fez, mesmo que sejam voltadas para o lazer. É na pausa do lazer – e não necessariamente da diversão que tanto distrai – que encontramos respostas porque abrimos espaço para elas se manifestarem.  Faz uma lista de tuas atividades de lazer e verifica se você não faz quase sempre as mesmas coisas. Essas atividades conhecidas nos dão prazer muitas vezes porque temos o conforto de conhecê-las. Se abra para o novo, experimentando novas formas de lazer, novos espaços, novos estímulos. Quem busca nas mesmas fontes, encontrará as mesmas respostas.

Viva sua pausa mesmo em atividade. Permita que o novo brote em você, no tempo que tiver que ser. Silencie para se ouvir. Alimente sua alma de novas formas de beleza, de novos conteúdos, de novos olhares e sentimentos. E de repente o novo brotará, se instalará retumbante, com toda a força que a vida tem. A partir de ali mudar o rumo é seguir o fluxo, o seu fluxo. Não haverá necessidade mais de rupturas abruptas, elas fazem parte da morte e não do nascimento do novo. Acredite, quando o novo que vem do coração, aquele que brota do Sentir estiver latente, você estará pronto.