Hoje fui ver uma exposição no Sesc Pompéia, em São Paulo, do artista francês Christian Boltanski . Na verdade mais do que uma exposição, trata-se de uma instalação, onde ele criou uma cidade, a partir da visita que fez a São Paulo, em que  torres feitas de caixas de papelão, listas telefônicas e cadastros de pessoas fazem as vezes dos edifícios. No meio desse espaço, há uma lâmpada que representa o coração das pessoas que habitam essa cidade, num piscar sincronizado com o som captado do coração dos próprios visitantes e de dentro das caixas de papelão que simulam prédios saem vozes que são depoimentos de pessoas que adotaram São Paulo como a sua cidade. Gente do mundo inteiro, que são apenas vozes, mas que quando você se aproxima e presta atenção, tornam-se histórias ricas e únicas. 

A palavra que mais ouvi foi gratidão. Cada um daqueles “paulistanos estrangeiros” contou sua experiência a respeito da chegada e da vida na cidade. Algumas experiências mais felizes e outras menos, como tudo na vida. Mas de um jeito ou de outro a gratidão pelo acolhimento da cidade estava presente. Sei do que se trata: também tenho uma gratidão enorme por esta cidade. 


Então fiquei refletindo sobre este sentimento: gratidão. Nos dias de hoje, agradecer é algo cada vez mais raro. Imagine, então, ser grato. A sensação que eu tenho é que as pessoas estão sempre esperando que você faça algo por elas e, isso, nada mais é do que a sua obrigação. Tenho a impressão que as pessoas nem pensam mais nisso.

Eu gosto de ser grata. Gosto de agradecer, gosto de lembrar das gratidões do passado, pois, para mim, é renovador. Mas quero contar a história de uma grande amiga, minha sócia, inclusive. Anos atrás ela perdeu um emprego muito bom de executiva de uma grande corporação. A vida dela virou de ponta cabeça e foi exatamente nesta época que eu a conheci. Eu estava com uma vaga na agência em aberto, porém era um cargo muito abaixo ao dela. Mas algo me dizia para oferecer e assim fiz. Ela aceitou e lá ficou comigo por alguns bons meses até se recolocar num outro lugar, mais próximo da sua experiência. 

Desde então, e lá se vão mais de 13 anos, ela não esquece desta “mão” que demos a ela. Eu sempre digo, e é verdade, que não foi mão nenhuma, pois eu não abri uma vaga para ela, eu tinha a vaga. E ela desempenhou com muita dedicação e amor o trabalho. Foi bom para ambas as partes, como um contrato de negócios tem que ser. 

Agora eu estou vivendo momentos de aperto. Não como os dela, naquela época, mas minha decisão de deixar por algum tempo o mundo corporativo, trouxe alguns impactos financeiros na minha vida. E, entre outras frentes, hoje tenho uma pequena sociedade com essa amiga. Aos poucos, vamos colhendo os frutos de um trabalho que temos muito amor em fazer. Pois não é que ela veio me falar, de novo, sobre a gratidão que ela tinha do passado e que agora era hora de retribuir? Disse novamente a ela que tinha sido um negócio, mas, a verdade, é que no coração dela, aquela oferta de trabalho, salvou sua vida- e não estamos falando em dinheiro. Estamos falando de autoestima, de valorização e de se sentir bem. No seu coração toda esta gratidão vem daí e é muito bonito ver como ela  expressa continuamente este sentimento latente.

Você tem gratidão no seu coração? Que tal a reflexão a respeito disso neste fim de semana?