Ao longo dos meus anos observando o comportamento da sociedade, fui entendendo que existem comportamentos transversais à idade, gênero e classe econômica, de acordo com os quais vou agrupando pessoas. Esses agrupamentos me ajudaram a compreender que, embora os ambientes, a cultura local e os valores familiares influenciem profundamente a visão de mundo das pessoas, há também um espaço onde o livre arbítrio se manifesta. Esse é o espaço onde a nossa liberdade melhor opera. A liberdade de ser, que, mesmo com toda a restrição oriunda de vivermos em sociedade, nos permite escolhas.

No campo da nossa liberdade, vejo pessoas com intenção de amadurecer, crescer e aprender com a vida. São pessoas que buscam intencionalmente melhorar sua vida na tentativa de serem mais felizes. Para elas, os problemas são etapas a serem vencidas e experiências a serem aprendidas, que as ajudarão a pular para o próximo nível.

Embora dentro desse grupo haja subdivisões, posso dizer que boa parte dele gosta de refletir e observar. Dois processos necessários para o desenvolvimento humano. A reflexão é fundamental para a interiorização de experiências e conceitos. É a pausa que nos permite assimilar, eliminar e elaborar. Ação sem reflexão é movimento com alto grau de desperdício energético. Se avança, sem dúvida, só que ao mesmo tempo se gastam recursos desnecessariamente.

A observação nos mantém atentos e presentes. O estado de presença, assim como a reflexão, poupa energia e recursos. Nos ajuda a compreender as conexões nas quais a vida se manifesta. Com o tempo e a prática, nosso cérebro rapidamente une fatos e com eles produz boas interpretações da realidade. Nos ajuda a apreender mesmo que não tenhamos vivido a experiência.

As pessoas que buscam o autodesenvolvimento, em maior ou menor grau, usam esses dois recursos – a reflexão e a observação – para tomarem as rédeas de suas vidas. Fazem uso de seu campo de liberdade sobre a vida. Já as pessoas que buscam simplesmente viver – ou talvez seja melhor dizer: sobreviver – com alguma dose de felicidade, passam longe do autoconhecimento e, por consequência, do desenvolvimento.

São pessoas que, seja por causa de uma profunda dor, fogem de refletir e olhar para si, ou, por um excessivo egoísmo, encontraram sua forma de operar no mundo com um jeito meio infantil e irresponsável que lhes traz benefícios. O espaço da liberdade é preenchido com ações carregadas de impulsividade, colocando manhas e vontades acima do respeito e bem-estar dos outros.

Tenho notado que essas pessoas conseguem viver assim porque o sistema no qual estão inseridas, de certa maneira, é condescendente com essas atitudes e comportamentos. É como se tivessem se acostumado a viver a vida dessa forma, sabendo que,o outro irá ceder, seja pelo motivo que for. Posso afirmar que, de um modo geral, não as considero pessoas felizes. Elas têm momentos de felicidade que cobrem, temporariamente, um buraco que não consegue ser preenchido, mesmo com todos os ganhos que sua atitude infantil lhes oferece. A felicidade se mantém até a próxima crise existencial ou de insatisfação, que promove um ciclone para quem vive ao lado. Nesse momento, infantilmente, buscam uma compensação que as acalme até a nova crise.

A felicidade é um estado de ser que exige domínio de si. Que exiige a decisão de tomar as rédeas da nossa vida em nossas mãos. A felicidade se aprende, não se ganha. Ela é oriunda da compreensão da vida, de suas limitações, suas oportunidades e sua inexorável capacidade de nos surpreender. A felicidade é criada a partir do autoconhecimento que nos leva ao desenvolvimento. De sabermos o que detestamos a ponto de fazermos de tudo para evitar, de sabermos o que somos incapazes de controlar em nós e o que mais alegra nosso coração. Assim, mesmo que a vida nos surpreenda, saberemos o que esperar das nossas reações. Operaremos dentro do campo da nossa liberdade para, sem ilusão, buscar o melhor de cada situação. Chamo isso de maturidade.