Deixo de lado a série de post em que venho tratando como os Movimentos Humanos se refletem no dia-a-dia de nossas vidas e dedico o post desta semana para o não que o Reino Unido deu para a diferença. Leio na Revista Época desta semana que quem decidiu pela saída foram, principalmente, os mais velhos e as pessoas do interior do Reino Unido somados aos sindicatos, assustados com a perda de poder – claro! – que a imigração promove.

Faz sentido para mim o resultado obtido no Referendo do dia 23 quando pensamos que na Europa a ideia de pureza sanguínea – talvez provinda do conceito de realeza = perfeição ou superior – associada ao nacionalismo, que traz também o conceito de pureza e pertencimento, ainda esteja arraigado nas entranhas da população, especialmente nas pessoas apegadas a conceitos antigos, com dificuldade em se abrir a novas crenças e conceitos.

Não pretendo fazer aqui uma análise econômica nem política, mas sim contribuir com a reflexão de porque achamos que o purismo é positivo. Primeiramente, acredito que seja uma ilusão.  Só fazer um teste DNA que traga a carga hereditária genética para comprovar que os puros há muito tempo se foram deste planeta. Somos todos produto de misturas, e que sem elas, não tivéssemos sobrevivido. Não é a toa que virou norma há séculos, na chamada realeza pura, o casamento fora da família sanguínea. Tornaram pureza o pertencimento à realeza e não necessariamente o sangue azul.  Todos sabemos que plebeus entraram, há muito, nas famílias reais. Flexibilizaram a regra em prol de futuro.

As sociedades mais hierárquicas – que valorizam o poder sobre, saiba mais nos links do Movimento Humano Poder Isonômico – são as que também mais valorizam a origem. Precisamos refletir o porque disso. Passei os últimos 10 dias em Barcelona e nota-se claramente a necessidade de valorizar a origem Catalã em tudo e em todo momento. Valorizar e honrar a origem considero nobre e um bom estabilizador emocional. Nos traz segurança e nos fortaleze ao trazer a força de nosso passado. Mas a árvore cresce para cima, se abrindo em múltiplos galhos permitindo a convivência e troca com outras realidades.

Valorizar as raízes não deveria significar desvalorizar o diferente. A desvalorização do diferente tem a ver com poder, tem a ver com a necessidade de se sentir superior (poder sobre). Tem a ver com competição e o que associo à imaturidade emocional (meu valor existe na medida que me comparo com o outro).

Por outro lado, se abrir para a diferença é se abrir para novas formas de ver a vida e expandir sua própria realidade. Não podemos ter medo de perder identidade, se estivermos bem enraizados nas nossas origens e compreendermos que a identidade está em constante construção. Sair de nossa área de segurança e observar o outro e trazer para nós aquilo que o outro tem de melhor e eliminar aquilo que não nos serve, só nos faz crescer. Sair e observar o outro para criticá-lo e minimizá-lo só demonstra a nossa insegurança de quem somos. Quem se sente seguro, normalmente não precisa que outro seja menor. Maior do que pertencermos a um país, a uma raça e até uma família – sem minimizar nenhum destes elos -, é pertencemos a um planeta, a um sistema biodiverso, que tem nessa característica a sua força de sobrevivência.

Fechar-se num buraco e criar muralhas em volta, historicamente, nunca garantiu sobrevivência a povo algum.

Para fechar gostaria de compartir com vocês um ensinamento que tive há mais de 20 anos, quando estava planejando abrir a Behavior: jovem pensava em montar uma equipe brilhante e para isso minha ideia era uma equipe homogênea formada por jovens que tivessem saído de determinadas faculdades, falassem várias línguas, tivessem vivência no exterior… todos conhecem esse perfil e devem vê-lo em algumas empresas hoje em dia. A minha sorte foi que comentei isso com Álvaro Cyrino, hoje na Fundação Getúlio Vargas, e ele me disse algo que ressona em mim até hoje: “Nany lembra sempre que o mundo só existe até hoje graças a biodiversidade“.